Em 17/05/2016, por meio do decreto no 10.254, foi homologada a decisão do Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Cultural e Natural de Ponte Nova (CCMPCN), a qual concede o registro do artista plástico e artesão Antônio Inácio, o Boneca, como Mestre dos Saberes e Fazeres do Município de Ponte Nova, com sua devida inscrição no Livro de Registro dos Mestres dos Saberes e Fazeres, conforme Lei Municipal nº 3.049/2007. Boneca fez jus à titulação por ser um dos poucos mestres de um importante domínio do patrimônio cultural, que é a escultura, possuindo técnica singular.
A titulação é conferida às pessoas que carregam consigo um conhecimento exemplar, notável e excepcional, através do qual comprovem consagrada trajetória no campo do patrimônio imaterial, seja por sua excelência criativa, seja por sua exemplaridade. A já falecida Dona Quininha foi a primeira Mestre dos Saberes e Fazeres de Ponte Nova, sendo agraciada por sua relação com o Congado. Boneca é o segundo a receber o título.
A entrega da titulação foi realizada na última sexta-feira (10/06), em frente ao ateliê do artista, localizado em sua residência, na confluência entre os bairros Vila Centenário e Triângulo, em evento promovido pela Prefeitura de Ponte Nova, por meio da Secretaria Municipal de Cultural e Turismo (Semct). A cerimônia contou com a presença de autoridades, amigos do artista e comunidade local, que fizeram questão de prestigiar a homenagem ao artesão.
O vice-presidente do CCMPCN, Dalton Sanches, parabenizou o artesão pelo título, referindo-se a ele como “um dos maiores artistas da região e uma das metonímias da cidade, pois, quando se fala em Ponte Nova, vem sempre a lembrança de Boneca, Dona Quininha e João Bosco”. Já o gestor da Semct, Emerson de Paula, destacou que a titulação, na forma da lei, foi criada para reconhecer pessoas que fazem parte da memória, da história e do patrimônio do município. “Talvez nós, que estamos com o olhar acostumado, não captemos a grandiosidade dessa pessoa que está aqui, ao nosso lado. Mas hoje estamos aqui para atentarmos sobre a importância de Boneca, essa figura ímpar e esse artista detentor de técnica singular”, declarou.
Boneca, emocionado, após a assinatura do livro de registros, fez um breve discurso sobre sua carreira artística, arrancando risos e lágrimas da plateia. Na sequência, teceu agradecimentos à Prefeitura de Ponte Nova, à família e aos amigos. “Meu ateliê, que é minha casa, estará sempre de portas abertas para quem quiser conhecer um pouco da minha arte. E gostaria de comunicar, na oportunidade, que no segundo semestre deste ano daremos início a um projeto, com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo, que prevê a visitação de estudantes ao meu espaço”, concluiu.
Na ocasião, o público também assistiu ao vídeo “Memória em Foco”, dirigido por Marcello Nicolato, um dos projetos financiados pelo edital do Sistema Municipal de Financiamento à Cultura da Semct. Nesse filme, a vida e a obra de Boneca são retratados sob seu próprio olhar e através de suas lembranças, evocando o passado e as histórias que marcaram sua trajetória cultural.
Breve história do artista
Antônio de Pádua Inácio nasceu em Cajuri em 1950. Mudou-se para Ponte Nova aos 8 anos e trabalhou, dos 12 aos 19 anos, em uma fábrica de estatuetas de gesso, onde aprendeu o ofício de confeccionar santos. Residiu em Belo Horizonte na década de 1970 e, naquela capital, frequentou galerias e expôs em feiras de artesanato. Casou-se e retornou a Ponte Nova, cidade onde reside até hoje. Em 1978, confeccionou um painel em homenagem aos plantadores de cana, afixado na Coplacan. Também trabalhou no ateliê do pintor Rui Meireles, local onde aprendeu talhas e nu feminino.
Pai de três filhos, associou, por mais de trinta anos, a vida em Ponte Nova às idas a Ouro Preto, onde possuía ateliê e, até hoje, comercializa arte sacra para todo o mundo. É de lá que advém sua forte influência barroca. Seu carro-chefe são as esculturas de São Francisco de Assis que, segundo sua visão, lhe proporcionam maior liberdade de criação por permitirem movimento. Mas Boneca não vive somente do sagrado, já que o profano também é objeto de sua arte, por meio de esculturas de corpos entrelaçados.
Disponível em: http://pontenova.mg.gov.br